HISTÓRIA

Falar de Mirandela é inevitavelmente falar de Alheira de Mirandela, numa simbiose perfeita que une os mais elementares padrões de um território: as pessoas e a cultura gastronómica, une também o passado, o presente e o futuro e agrega a forte identidade de Mirandela cuja reputação há muito trespassou as fronteiras nacionais.
A Alheira de Mirandela, qualificada pela EU como Produto Tradicional – IGP, desde 2016, pode estar nos tempos longínquos ligada à expulsão dos judeus em Portugal e hoje é reconhecida como o enchido mais afamado de Portugal.
Pese embora seja difícil localizar no tempo o aparecimento do enchido mais afamado de Portugal, mas fazendo fé na publicação da Revista da Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, na sua edição de Fevereiro de 1982, a Alheira de Mirandela ficará para sempre associada à expulsão dos Judeus pelo Rei D. Manuel I.
D. Manuel O Venturoso (1469-1521) nutrindo ambição de unir os reinos ibéricos, levou-o a ceder às exigências dos reis espanhóis católicos, que numa das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragão, assinado em 30 de novembro de 1496, exigiam que fossem expulsos os infiéis (mouros e judeus) do Portugal. Cedendo a idênticas pressões castelhanas, D. Manuel I solicitou em 1515 do papa Leão X, através do seu embaixador em Roma, a introdução em Portugal de um tribunal da Inquisição.
Muitos judeus menos abastados e que não tiveram como deixar Portugal, converteram em Novos Cristãos e começaram a fixar em territórios do Interior e a formar comunidades em que se faziam passar por novos cristãos mas a Inquisição para se assegurar de tal realidade, infiltravam-se nos pequenos e distantes lugarejos transmontanos, e secretamente procuravam saber quem não trabalhava ao Sábado, quem não comia peixe sem escama nem carne de porco. Muitos Judeus houve, que descobriram no fabrico das alheiras uma forma de enganar os perseguidores. Começaram a aparecer no cimo das confortantes braseiras que amenizavam o rigor das invernias daquelas frígidas terras, uns doirados e roliços enchidos, parecendo ressumar farta gordura de cervo recentemente abatido, que, por entre ténues cortinas de fumaça se enfileiravam em ar de abastança. E os políticos e delatores miravam a luzidia comida, tocavam a sua untuosidade, e acabavam muitas vezes por se empanturrar de comum com os visitados, por entre nacos de pão centeio e camadas de vinho da última colheita, assim terminado por concluir que homem que come daquele enchido de porco, Judeu não é mas Cristão e dos bons. Os perseguidos Cristão Novos em lugar de meter na tripa seca a carne do animal que a lei mosaica vedava, antes usavam a gorda galinha criada no seu terreiro, o fugidio coelho do mato, a anafada perdiz, tudo amassado no grosseiro mas gostoso pão da região, servindo de excipiente doirado azeite de vestutas Oliveiras e de condimento agressivo do alho Silvestre. Mas os tempos passaram. E a alheira foi-se metamorfoseando. E venceu o porco. A verdade é que com o decorrer dos tempos foi este animal quem melhor sabor começou a fornecer a este alimento. Assim, hoje a alheira é um enchido confecionado obrigatoriamente com Porco Bísaro, uma raça autóctone do território.
O costume alastrou por toda a região e a fama das alheiras tornou-se conhecida em todo o país, e os pedidos deste produto passaram a ser muitos. As populações transmontanas, para os satisfazerem, traziam as alheiras à estação do comboio mais próxima, que era Mirandela.
Mesmo que as dúvidas continuem a persistir e dispormos de parcos registros escritos, ilustres mirandelenses defendem que o termo alheira, está associado a  tecnologia fabriqueira de enchidos [a toucinheira mirandelense condimentada com bastante alho e a todos os enchidos similares, no fim do séc. XIX/início do séc. XX, em Trás-os-Montes, mais propriamente na denominada Terra Quente Transmontana que utilizava a centralidade de Mirandela para a expedição das suas produções para o litoral e centro do país.
Deste modo, as alheiras que chegavam a todo o país tornaram-se famosas e passaram a ser conhecidas como Alheira de Mirandela. O espírito empreendedor das gentes de Mirandela levou a que o fabrico e a comercialização da alheira se desenvolvessem em torno da sua cidade, mantendo reservado o seu saber fazer local.
O espírito empreendedor das gentes de Mirandela transportado em caixa de madeiras lacradas e pelo comboio do Tua ao Porto, fez com que o reconhecimento da Alheira de Mirandela fosse aclamado, e muito noticiado na imprensa regional e nacional, com destaque para completa reportagem no Notícias de Mirandela de 29 de Maio 1960 a atestar como evidência da sua existência e importância na atividade comercial do meio.

A ALHEIRA DE MIRANDELA E A CERTIFICAÇÃO

Conforme memórias arquivadas no acervo da Câmara Municipal de Mirandela, desde dos meados do Século XX.º, em 1960 já era reclamado pelos guardiões um registo e proteção que defende-se as autênticas Alheira de Mirandela da concorrência das imitações que proliferavam por toda a região, conforme memórias arquivadas no acervo da Câmara Municipal de Mirandela.
Com a adesão de Portugal à CEE, e abrigo do Regulamento (CEE) N.º 2081/92 de 14 de Julho de 1992, que regulamentava a Política Comunitária de Valorização e Proteção de Produtos Tradicionais, a Alheira de Mirandela foi reconhecida como Especialidade Tradicional Garantida (ETG) – Registo Provisório e a Associação Comercial e Industrial de Mirandela foi reconhecida como Entidade Gestora.  Considerando que a Certificação da Alheira de Mirandela, ETG – Especialidade Tradicional Garantida era um registo provisório era necessário assegurar um Registo de Definitivo que valoriza-se e circunscreve- se o território de produção da Alheira de Mirandela ao concelho de Mirandela, Depois de um período longo de diligências com as entidades que regulamentam a nível nacional e comunitário, cerca de 20 anos, a Comissão Europeia classificou a 2 de março de 2016, a Alheira de Mirandela como um produto de indicação geográfica protegida (IGP), considerando que se distingue de outros enchidos da mesma categoria pelo seu aroma e paladar e forma de preparação. E cerca meio século depois, cumprimos o anseio dos fervorosos defensores da Alheira de Mirandela e a eles dedicamos estas batalhas vitoriosas. Considerando os dados do Gabinete de Planeamento do Ministério da Agricultura e das Pescas, a Alheira de Mirandela é produzida ininterruptamente desde 1997, ano subsequente à aprovação da proteção em 1996, cumpre um rigor caderno de especificações aprovado pela UE e é hoje em termos absolutos o enchido que mais certifica a nível nacional.

PRODUTORES DE ALHEIRA DE MIRANDELA


ALHEIRAS GRACINDA

Em 1930 nasce em Mirandela, propriamente na aldeia de Chelas, José Marcelino Cepeda, ambicioso e predestinado, com uma “alma” intrínseca para o negócio.Com 17 anos ruma para África, mais propriamente Luanda em Angola, á procura de uma vida melhor. Em 1975, é obrigado a “retornar” ao seu país e começar uma vida nova, em Mirandela. Pensando na sustentabilidade da família, homem arrojado, nada seria exequível, se não houvesse uma “grande mulher”, arranjou de imediato a solução – “ninguém vai morrer á fome, eu faço alheiras e tu vais vendê-las”. No inicio do processo do fabrico das alheiras, estas eram encaixotadas e colocadas no comboio para se irem vender ao Porto por José Marcelino Cêpeda, com a ajuda de um dos seus filhos, calcorreando ruas, subindo e descendo autocarros com conjuntos de caixas nas mãos assim nasceram as “ALHEIRAS GRACINDA”. As instalações de origem começam a ser pequenas e ultrapassadas, os restantes membros da família ocupam-se de outras atividades comerciais, a firma passa a ter a tutela exclusiva dos mentores do projeto, registando-se como Alheiras Gracinda, de José Marcelino Cêpeda. Em 1986, é adquirido um terreno na zona industrial de Mirandela, onde se ergue a nova estrutura das instalações que até hoje perduram (Zona Industrial de Mirandela, Rua A). Neste momento, os três filhos assumiram as linhas traçadas pelo mentor, a empresa mais antiga na cidade de Mirandela, no ramo da indústria, tendo conseguido ser em conjunto com os parceiros da cidade, a Alheira de Mirandela, a 7ª Maravilha da Gastronomia. Com a renovação da firma, e consequente aumento de colaboradoras, esta pequena empresa de ramo familiar orgulha-se dos seu trajeto, tendo como base de ideologia, o mentor José Marcelino Cepeda, com os herdeiros a darem uma excelente continuidade ao trajeto iniciado.

ALVES & RIBEIRO, LDA.

Produz enchidos, de qualidade reconhecida, predominantemente a alheira, um produto regional de características únicas e muito especificas que estamos empenhados, em preservar e continuamente melhorar. A empresa produz alheiras de Mirandela e de caça, embora a maior parte da produção se estenda á alheira Angelina. Além da produção de alheiras, dedica-se ainda, embora em menor escala, á produção doutros enchidos regionais, como linguiça, salpicão, chouriça doce, chouriço azedo, mouras, entre outros. Dispondo de padaria, dedica-se á produção de pão próprio para o fabrico das alheiras, além doutro tipo de pão, bolas e folares de carne, muito procurados pela altura da Páscoa. Fomos distinguidos com Medalha de Ouro e Melhor dos Melhores vários anos consecutivos, destacando a Alheira de Mirandela e o Folar D`Angelina, prémios obtidos no Concurso Nacional integrado na Feira Nacional de Agricultura de Santarém. Situada na cidade de Mirandela esta empresa foi constituída no ano de 1994, começando a sua laboração no ano de 1995. Ao longo do tempo tem vindo a modernizar-se em termos de equipamentos e infraestruturas, mantendo como cunho próprio, produtos de elevado nível de qualidade, preservando as receitas ancestrais. Desde 1995 a Alves & Ribeiro, Lda. tem desenvolvido a sua atividade na Industria de panificação fabrico e preparação de carnes, nomeadamente Alheira de Mirandela. Merecer a preferência natural dos clientes sendo uma referência quer pela qualidade dos nossos produtos quer pela prestação dos serviços aos nossos clientes.

EUROFUMEIRO
A Eurofumeiro – Sociedade Industrial de Transformação de Carnes,Lda., foi  constituída em 1994 e iniciou a sua atividade a 1 de Abril de 1996, após conclusão das novas instalações. O principal objetivo da referida Sociedade é o fabrico de Alheiras. Pode ser referido que a Eurofumeiro é uma empresa com muita tradição ao longo da sua atividade, tendo vindo a adquirir uma imagem de marca forte e de qualidade superior. Está localizada na cidade de Mirandela, em pleno Nordeste Transmontano, região esta, reconhecida pela excelente qualidade dos seus produtos.
A 12 de Março de 2004 obteve a Certificação do seu Sistema de Qualidade de acordo com o referencial normativo NP EN ISO 9001: 2000 concedido pela APCER. Também reconhecida com a Norma NPEN ISO 22000 de Qualidade Alimentar, atualmente a empresa está certificada com a norma IFS Food Defense.
Ao longo dos últimos 10 anos a Eurofumeiro tem vindo a ser distinguida como PME Líder nos anos 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020, sendo também reconhecida como PME Excelência em 2015, 2017, 2019 e 2020 pela qualidade do seu desempenho e perfil de risco.

ALHEIRAS TOPITEU
 TOPITÉU – Alheiras de Mirandela, Lda., constituída em 1980 e com sede em Mirandela, agrega o know how, experiência e tradição na confeção de Alheiras e restantes produtos de charcutaria. Resultantes da fusão de três pequenas empresas artesanais produtoras de Alheiras segundo preceitos e receitas ancestrais. Com vista ao seu desenvolvimento no mercado nacional e internacional, procedeu à realização de investimentos entre 1980 e 2000, nomeadamente a construção de um matadouro de suínos para obtenção de carnes frescas de qualidade, melhoria e construção de instalações higio-sanitárias sofisticadas com vista ao incremento dos níveis de Qualidade e Segurança Alimentar bem como à aquisição de uma unidade pecuária. Apostada num crescimento organizacional sustentado, implementou um Sistema de Segurança Alimentar, HACCP e obteve a Certificação do seu Sistema de Gestão de Qualidade, de acordo com o referencial normativo NP ISO 9001

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