Ainda se lembra de abrir a carteira e ver escudos?
Já lá vão mais de 20 anos desde que Portugal aderiu à moeda única, sendo que muito mudou na vida dos cidadãos.
A moeda única, o euro, foi lançada no dia 1 de janeiro de 1999, apesar de, oficialmente, só ter começado a circular em 2002, altura em que passou a ser a divisa de 300 milhões de cidadãos europeus.
Em Portugal, e apesar de terem sido tomadas medidas para que não houvesse especulação de preços (como a apresentação dos preços em escudos e em euros), as pequenas despesas chegaram a duplicar de um dia para o outro.
Por exemplo, o café expresso, que imediatamente antes da entrada em vigor do euro, custava 50 escudos, passou a custar 50 cêntimos (100 escudos), valor que foi aplicado para facilitar os pagamentos na nova unidade monetária (ou pelo menos foi essa a explicação dada pelos restaurantes, cafés e pastelarias para explicar o fenómeno de variação de preços). Foram os chamados “preços convenientes”, cujo último algarismo termina em zero.
Certo é que a troca de escudos por euros veio aumentar o custo de vida dos portugueses, até porque Portugal entrou na moeda única europeia com o escudo muito caro (200,482 escudos = 1 euro), o que, em grande medida, retirou poder de compra aos cidadãos.
O QUE DUPLICOU DE PREÇO COM A MOEDA ÚNICA
Atualmente, o euro é a moeda oficial de 19 países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda e Portugal), sendo que é a divisa de mais de 340 milhões de europeus.
Porém, nem todos os países estão no euro desde o início. Portugal faz parte do grupo de 11 fundadores que começaram a usar a moeda única desde que começou a circular, juntamente com Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo.
Passadas duas décadas a circular nas carteiras portugueses, em substituição do escudo, e após um período de adaptação moroso (quem não se lembra dos caricatos conversores do escudo para o euro, que toda a gente levava quando ia às compras), foi-se perdendo o valor real do dinheiro.
Isto é, sem darmos por isso, começámos a tirar da carteira muito mais dinheiro para comprar os mesmos produtos. Comprávamos sem termos bem a noção de quanto é que estávamos a pagar, sobretudo nos primeiros três anos da moeda única.
Quando antes dávamos 20 ou 30 escudos ao arrumador, passámos a dar 50 cêntimos (100 escudos) ou mais. Hoje, darmos dois euros (400 escudos) de gorjeta num restaurante passou a ser normal. Ainda se recorda do que poderia fazer com 1000 escudos (hoje, apenas 5 euros)? Fizemos algumas contas.
- O litro de gasolina
Em janeiro de 2002, antes da moeda única, o litro de gasolina custava, em média, 172 escudos (86 cêntimos). Em janeiro de 2021, o preço médio era de 1,482 euros (quase 300 escudos). Com 1000 escudos podia abastecer o seu automóvel com 6 litros de gasolina. No início deste ano, apenas com três.
- O bilhete de cinema
No mesmo período de tempo, uma ida ao cinema deixou de custar 700 escudos (3,49 euros) para passar a custar 7 euros (1400 escudos). Ou seja, no início deste ano, 1000 escudos não chegavam para comprar um bilhete de cinema.
- Transportes públicos
Um bilhete de metro em janeiro de 2002 custava 100 escudos (50 cêntimos). Atualmente, para um bilhete de 1 hora, em Lisboa, pagará 1,40 euros (280 escudos).
- Refeição completa em restaurante
Já o preço de uma refeição completa custava, em média, 1800 escudos (8,98 euros). Hoje, terá que desembolsar cerca de 15 euros (3000 escudos) para fazer a mesma refeição.
- O maço de tabaco
A título de exemplo, um maço de Marlboro, custava 370 escudos (1,85 euros). Pelo mesmo maço, hoje pagará 5 euros ( escudos) – a tal nota de 1000 escudos.
Estes são apenas alguns exemplos de pequenas despesas cujo valor foi bastante inflacionado com a entrada no euro. No supermercado, produtos alimentares como os ovos, fruta ou leite também aumentaram, apesar de, por exemplo, o preço da carne, em comparação, ter mantido quase o mesmo preço.
Poderíamos ainda falar de portagens, preços de espetáculos culturais, jogos de azar, entre outros. No fundo, resumem-se a bens e serviços que, no dia-a-dia pagamos em numerário.
O CUSTO DE VIDA AUMENTOU MAIS DO QUE OS SALÁRIOS
De acordo com uma comparação de dados apresentados pela PORDATA, o salário mínimo nacional em janeiro de 2002 era de 69.770 escudos (348 euros). Em janeiro de 2021, de 665 euros. Porém, o rendimento médio disponível das famílias subiu pouco mais de 7%, um valor manifestamente baixo para o custo de vida atualmente.
Claro que a adesão à moeda única também trouxe aspetos positivos, ainda que, muitos deles, não influenciem diretamente (ou de forma imediata) o dia-a-dia dos portugueses.
Do ponto de vista economicista, a moeda única transformou a forma de se comprar quando se viaja na União Europeia, uma vez que deixou de ser necessário trocar dinheiro pela moeda local. Além disso, o euro continua a ser uma moeda forte, mais valiosa do que o dólar norte-americano e a segunda moeda mais utilizada em transações internacionais.
Mas mais importante do que isso, acabou por controlar a inflação. Se alguns meses após a entrada em circulação do euro, a taxa de inflação em Portugal acelerou para valores acima de 5%, a moeda única veio introduzir alguma estabilidade na evolução dos preços no país.
Assim sendo – e voltando ao exemplo dado inicialmente -, se em vez de “o copo meio vazio”, olharmos para a situação através da perspetiva do “copo meio cheio”, o café expresso que, custava 50 cêntimos em 2002, custa agora, passados 20 anos, 65 cêntimos (média do país). Um aumento de apenas 15 cêntimos.
Fonte: e-konomista.pt